Ele perguntou o que ela queria dizer, e ela permaneceu silenciosa, a sorrir e a brincar com a sua trela. Ele insistiu, fez-lhe festinhas nas orelhas, exactamente como ela gostava, fez-lhe renovadas juras de amor e de obediência, mas ela nada respondeu e deixou-se adormecer tranquila nos seus braços, como sempre, como se nada tivesse alterado a rotina que partilhavam.
Na manhã seguinte, quando ela acordou apercebeu-se que ele estava acordado a olhá-la, e antes que ele pudesse dizer alguma coisa, começou a cantar muito devagarinho, enquanto percorria o tronco dele com as pontas dos dedos:
"Em cima do piano,
Está um copo com veneno,
Quem bebeu...
Morreu..."
E desatou a rir com uma alegria infantil que ele não lhe conhecia.
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6 comentários:
Gostei bastante, Rita, creio que o desenvolvimento do enredo se encaminha para locais insondáveis... Great!
Boa sequência, Rita!
obrigada, meninas.
agora estou inquieta para ver que caminhos este casal vai trilhar ;)
auguro a este casal um fim trágico: o divórcio litigioso. Vão lutar nos tribunais pela tutela das coleiras.
Gostei muito, Rita. Mantiveste a sensação descrita pela Susana em comentário anterior de preservação de uma mesma voz autoral.
A ideia do veneno é brilhante. Introduz a suspeição, elan vital de qualquer drama interessante. Além disso, retira-nos da intimidade sufocante destas duas criaturas...depois de ler tudo isto, consigo imaginar o aspecto das personas...mas não consigo imaginar as suas personalidades!
mas estou a gostar, muito
continuem
tenciono visitar-vos todos os dias, só para Vos...confesso, contudo, a minha admiração despegada. Quem me dera ser capaz de escrever como escrevem.
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