sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Vestiam-se escrupulosamente de preto, de manhã cedo, depois de tomarem o pequeno-almoço na cama. Mas era raro saírem à rua. O mundo exterior tinha muito pouco para lhes contar. Passavam longas horas sentados na mesa da cozinha, ele a dar-lhe de comer aos bocadinhos, ela a mordiscar-lhe o queixo e a lamber-lhe os dedos, numa troca sensual entre predador e presa. Ele prendera-a porque ela o exigira desde o início: para se sentir cativa – ela que até ali gastara a existência de uma forma errante, sem prazer nisso – e para ter, no contacto com a corrente, uma garantia de estar viva. E porque, na verdade, sempre concordara com a ideia de que nos devemos deixar prender por aquilo em que acreditamos. Ele não se opusera. Comprara-lhe, logo no dia a seguir, a mais moderna coleira do mercado.

Quando se deitavam, atava a trela a um dos pés da cama e apagava todas as luzes. Faziam amor com a voracidade de quem luta contra a morte. “Sou eu que estou acorrentado, tu és a minha caverna, meu amor, a casa escura que me abriga dos estragos da luz, e eu só sei viver dentro de ti, na noite cerrada”, dizia ele. Dizia-lhe aquilo sempre, noite após noite. Ela ficava em silêncio, de olhos fechados, a repor a respiração. Depois ele limpava-lhe o suor, dava-lhe de beber e aconchegava-se ao seu corpo já quase quieto. Ela nunca dizia nada. Nunca respondia nada àquela frase estranha e comprida, que ele pronunciava, todas as vezes, com a mesma aflição na voz.

Depois do ritual de sempre, houve uma noite em que ela abriu muito os olhos e disse laconicamente: “Sinto que estou a amanhecer”.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O doutor levantou a guarda da sanita. A sua empregada, uma negra voluntariosa que comprara ao pai por duas vacas, adorava mijar como os homens. E tal como alguns homens esquecia-se de levantar a guarda. Era óbvio que o fazia propositadamente para não deixar nenhum pormenor ao acaso. O doutor suspirou no mesmo instante em que um arco cintilante fazia tilintar a água da sanita. Tinha fechado os olhos e estava relaxado. E naquele preciso momento teve uma premonição fortíssima. Documentos antigos, que decifrara e mantinha em segredo, previam o regresso do messias. Abriu os olhos e revirou as pupilas para a sua direita. O espelho sobre o lava mãos reflectia habitualmente a bandeira dum movimento politico que ele bem conhecia, e que colocara ostensivamente por cima da lareira, na sala de estar. Não teve dúvidas, o bibliotecário, tesoureiro do movimento desde a sua fundação. A bandeira não estava no seu lugar. Correu à janela e lá estava ela, a drapejar no mastro da varanda. Quando ainda há pouco se encontrava no seu lugar de sempre. Era o sinal. Só podia ser o sinal. Desceu as escadas atabalhoadamente como se o prédio não tivesse elevador. Uma silhueta desenhava-se no crepúsculo, encaixilhada pela moldura da porta da rua. Antes de abri-la a tremer, reparou num transeunte que tinha parado a mirar com surpresa e divertimento, aquela figura avantajada, vestida de organdi. O doutor Mwakebeke fez girar a porta nas dobradiças ao que ela lhe respondeu com um guincho emperrado. Só balbuciou: “Doutor Savimbi, benvindo."
I must be strong and carry on,
'Cause I know I don't belong…
“Aqui deixo as minhas últimas palavras antes de — antes de fazer o que já devia ter feito há muito tempo.
A Sheila deixo as minhas esquinas, as minhas verdades e os meus vestidos de chita. A Joaquim deixo 32 colunas de gastronomia prontas a publicar, os meus fatos de organdi e as minhas mentiras.
A casa fica para quem vier; o carro para quem o achar.
As noites, estas, são só minhas.
A Jerry e Joe deixo as minhas revistas, desde Março de 1938.
Lex Luthor”

Imprimiu o texto, colocou-o dentro do envelope endereçado a Perry Mason, o único ser humano em quem ainda confiava, e juntou alguns pertences de maior necessidade. Estava pronto para partir. A noite tinha regressado, era melhor assim. Passou o olhar pela casa uma última vez, tão modesta como eu, como é bom, meu Deus morar, fechou a porta cuidadosamente e fundiu-se com as sombras.
Lex Luthor partia para a sua última demanda sem reparar que, do outro lado da rua, na soleira do prédio 613, um sorriso diabolicamente fugidio acompanhava todos os seus movimentos. Um sorriso que dominava, como ninguém, a Teoria da Grande Trampa; mais, vergava-a aos seus desejos. Lex Luthor avançava, inconsciente. There he goes, walking down the street.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Leu e releu aquela palavra à espera que as letras se alterassem. Emudeceu diante dela, incapaz de a pronunciar. Saiu para a rua, inseguro, vagueou sem direcção… Tantos anos… tantas noites… sem nunca sentir a paixão! E agora que a descobria, ela esbofeteava-o na cara. Assim, à traição. Por cima de um bidé.
Naquele quarto rasca, Lex Luthor aprendeu uma lição.
Viver com a mentira tinha sido a sua forma de denunciar um mundo intrinsecamente falso, embora aparentemente coeso. Passara anos às voltas com a Teoria da Grande Trampa. É verdade: antes de escrever para o jornal tinha estudado Filosofia. Queria conhecer os mistérios do universo, indagar o sentido da vida. Tinha dito à namorada: Cristina, não vais levar a mal, mas a verdade é fundamental. Foi para a biblioteca e descobriu aqueles que viriam a ser os seus autores preferidos: Joe Shuster e Jerry Siegel. Aprendeu com eles (que os outros não sabem nem sonham) o êxtase da ficção, a alquimia do irreal. Adoptou a máxima We all live in a yellow submarine. Acima de tudo, a leitura conduziu-o à exigência da metamorfose. All we need is change. Ta-ta-ram-ta-ram. Como em Kafka! Mas de modo mais moderno. Científico. Por isso decidira chamar-se Lex Luthor e escrever para um jornal. Sempre era mais digno do que ser uma barata fechada num quarto imundo. A barata diz que tem sapatinhos de veludo, mas é mentira. Sempre a mentira! Foi este o seu tributo à tradição ocidental do pensamento abstracto; a sua homenagem ao progresso; o modo que encontrou de colorir com o lápis da contra-factualidade aquilo que, de outra forma, continuaria sendo o cinzentismo duma existência vã. Uma noite, olhou para o céu – estava estrelado. Pensou em ovos e resolveu escrever uma coluna de gastronomia. Estava tudo certo, que é o mesmo que dizer: tudo errado. Depois apaixonou-se e passou a estar tudo errado, que é o mesmo que dizer: tudo certo.
Naquele quarto rasca, Lex Luthor aprendeu uma lição que o fez recordar-se da Grande Trampa. E decidiu: vou partir naquela estrada onde um dia cheguei a sorrir. Mas antes, precisava de fazer algo… Algo…bom…. Chegou a casa, sentou-se ao computador e escreveu:

domingo, 24 de fevereiro de 2008



O amor era outra experiência completamente desconhecida para Lex Luthor. Afinal, o amor é para os crédulos. Acreditam que estão apaixonados por alguém, acreditam que essa pessoa gosta de volta, acreditam que vai ser para sempre. Sentiu-se um rapazinho inseguro, outra novidade. O jovem Lex iniciou-se nas artes da mentira quando o resto dos rapazes descobriam o corpo, as raparigas e um mundo de emoções. Um carro de alta cilindrada aproximou-se da berma. Após breve diálogo através da janela, arrancou, levando consigo o tafetá.

Chamavam-na de Sheila. Silhueta alta, esguia, escura, vestia sempre de branco e pouco. Mirava com ar altivo, através das pestanas demasiado longas, enroladas, tesas de tantas camadas de rímel. Nunca haviam trocado uma palavra. Entendeu que esta criatura fazia tanto sentido naquela esquina quanto ele próprio, Nini. Ambos pertenciam a um outro universo. Não sabendo bem qual, decidiu-se que construiriam um. A função de Nini estava esgotada, pelo que foi para casa e enterrou-a. Voltou mais tarde, Lex em organdi, após breve diálogo através da janela do carro, arrancou. Era seu, o tafetá, enquanto esta noite durasse.

Foram para um quarto rasca, numa pensão rasca. Sem sexo rasca, ficaram deitados, Lex explicando o que sentia, que pretendia tirá-la da vida. Utilizou, pela primeira vez de modo crente, as palavras verdadeiro, sincero, honestamente, amor. Sheila permanecia silenciosa, mesmo quando ele lhe pediu que revelasse o seu nome verdadeiro. Sentiu-se adormecer, falar a verdade era um exercício esgotante. Acordou só. No espelho por cima do bidé, que ficava no canto do quarto, escrito a baton escarlate, uma palavra: Joaquim.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

É que acreditar era uma experiência completamente nova para Lex Luthor, dar crédito ao que ele próprio fazia e dizia, pior ainda, dar crédito ao que pensava, nunca antes o tinha experimentado. Tinha até receio do que lhe ia acontecer a seguir... pela lei das probabilidades, ia acabar a ser atingido por um raio no meio de Trafalgar Square, à cautela, era melhor não ir a Londres num futuro próximo.
Mas vejamos, se ele acreditava em algo que acabava de intuir, que ainda não tinha, sequer, verbalizado, isso seria uma mentira, ou não? Afinal, ele era o profissional da mentira e do descrédito, era a sua ocupação diária desde que se conhecia por gente e nunca se tinha sentido assim confundido.
Olhou mais uma vez para o lado, para aquela pessoa que vendia o corpo mesmo ao seu lado, todas as noites, como se fosse a primeira vez que via alguém verdadeiramente maravilhoso, apesar do tafetá barato com que cobria as suas formas perfeitas. Acreditou que estava apaixonado.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Um dia, contudo, mentiu tão bem, tão bem, tão bem, que ele próprio acreditou.
Lex Luthor praticava a mentira como quem vai ao ginásio andar na passadeira. Todos os dias procurava exercitá-la com alguém. Quando não se cruzava com uma idosa ou com um ministro, mentia a si próprio - como qualquer vulgar cidadão nos momentos decisivos da existência. Ao acordar, realizava uma curta metragem mental sobre a sua vida e tornava-a ora mais deprimente ora mais lúdica, conforme estivesse mais sintonizado com o género tragédia ou comédia. Aliás, isso de se chamar Lex Luthor e de vestir de organdi era a primeira das suas aldrabices. Uma aldrabice parcial, pelo menos. Durante o dia era Lex Luthor e assinava, sem qualquer aptidão ou gosto, colunas de gastronomia. Mas, à noite, era outra coisa: chamava-se Nini, como na canção, e vestia chita. Era conhecido no mundo do travestismo e da prostituição por alimentar um vício original. A maior parte dos outros (e das outras) ia para as esquinas vender o corpo por heroína. Ele vendia o seu para alimentar a mentira.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Chamava-se Lex Luthor, vestia de organdi e escrevia para um jornal. Passemos-lhe a palavra: “desculpe, um reparo: eu era colunista. Como sabe, podia escrever para um jornal e eser jornalista. Não, era colaborador da imprensa escrita. Gosto que as coisas fiquem bem assentes e definidas. De resto, sim, chamava-me Lex Luthor e vestia de organdi. Perguntam-me muitas vezes – Porquê o organdi? E eu então nessas coisas sou muitoo…e então respondo logo com uma pergunta – porque não o organdi? Era colunista e tinha uma coluna sobre …vão rir-se… gastronomia. Era um jornal de grande expansão. Já se vê que assinava com um pseudónimo, António Alberto da Silva. Já devem ter visto este nome por aí. Suponho que ninguém havia de ler uma coluna assinada por Lex Luthor ou pelo menos não lhe daria grande crédito, o que de certa forma não serviria os meus objectivos.
Ao contrario do que se possa eventualmente pensar, não entendo nada de gastronomia. Nem sequer como consumidor porque simplesmento não tenho prazer em comer. Faço-o porque dizem ser bom para manter a saúde no seu lugar. Então porque escrevo sobre gastronomia? Já sabia que mo queriam perguntar. Sinto-vos impacientes: “vá lá. Porquê, porquê?" Apesar de escrever sobre gastronomia e de ter dado à minha coluna o título A Coluna de Gastronomia, a verdade é que não escrevia sobre gastronomia. Reparem – assinava com um nome falso e a coluna não versava os sabores e a sua preparação. Bem, vou tirar-vos da angustia que devem estar a experimentar. Escrevo sobre a mentira.
Fascinam-me a mentira e as suas variações como o boato, as meias_verdades, o diz que disse. E o meu objectivo é bastante ambicioso – sugerir aos leitores que evitem com que se trate a mentira como algo soez e se a possa requalificar como uma actividade de futuro , uma mais valia para o progresso da humanidade.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Traiçoeira.
Como é que esta escapou, sempre gostava de saber.
É porque sempre viveu nas minhas veias — parasita! —, sempre engrossou o meu sangue, alargando as minhas artérias até quase explodirem!
Tenho de me concentrar.
Ponho-me em pé no topo do muro. Para baixo, a vertigem da liberdade. Não há espias que me segurem, não há raízes a prender-me os pés, sou vela bojuda, sou folha deslaçada, sou… porque não salto?
O grito do enfermeiro empurra-me. Desapareço na curva do passeio, o asfalto estalado a abrir-se debaixo dos meus pés; por cima, um traço magenta a evaporar-se para Levante, um vento quente a enfunar-me a alma.
Já fui.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Espreito o corredor - vazio! Sigo até às escadas - ninguém! Paro à escuta - silêncio! O caminho está livre, como eu supunha. Desço-as devagar. Procuro a Avenida da Memória. Lá está ela: 5º degrau oeste. Sento-me no terceiro banco enquanto abro a embalagem de Happy Meal. Está a correr tudo confome o plano. Vejo a chave e a escada - óptimo! É daquelas desdobráveis que se arrumam em qualquer parte. Até numa embalagem de cartão! Sinto-me bem. Quase feliz. Mas elas começam a surgir. Cercam-me. Roubam-me ar, espaço e força. Não consigo mexer-me.

Alguém lhes deu o nome de recordações; umas cabras é o que são, a passear a estas horas na avenida. Nunca deixam um tipo em paz. Uma após outra, desfilam perante mim. Fecho os olhos, mas elas dominam-me. Mostram-se sem pudor. A mais sádica imobiliza-me. Sou de novo réu, horror e loucura. Protagonista de fugas impossíveis; primeiro, na categoria de evadido espontâneo, correndo na modalidade do atletismo paralisante; depois, procurando soluções mais refinadas (atirar-me da janela, balançar-me numa corda, deixar-me ir com a água do banho, enrolar-me nos pneus dos carros que nos visitam). Planos loucos (até para mim!) que nunca pus em prática porque nenhum me daria o que quero mesmo: uma mini e o desportivo. Quero ver-me subir em flecha. Cair com estrondo. Rolar na relva. Arrotar na esplanada. E voltar lá. Preciso de voltar lá.

Por isso gosto de aviões. O traço magenta que me espera lá fora empurra-me na direcção da porta. As cabras não querem deixar-me partir. Mas eu sou forte! Vou conseguir! Suporto a custo o gelo do suor enquanto abro o cadeado de ferro. Estou a tremer. Já está! Saio para o pátio. Elas tentam seguir-me, mas dão-se mal com o ar. Ficam para trás, as nojentas, encostadas aos vidros, desfiguradas no seu esgar de desespero.

Já oiço o barulho do avião, zumbindo numa pontaria de abelha só para mim. Sinto-me pólen. Quase mel. Afortunado. Quase feliz.

Encosto a escada ao muro. Subo-o depressa. Atrapalho-me com as mãos. Bato com a cabeça numa pedra. Escorrego com a breve tontura que me dá. Mas não desisto. É agora ou nunca. Consegui! Preparo-me para saltar, mas algo me detém. É a única recordação que não consigo vencer. Já há muito tempo que não a via, mas reconheço-a de imediato.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Está todo amarrotado e só consigo ver gatafunhos. Arrisquei-me tanto para isto, que diabo! Meto o papel ao bolso, fecho o cacifo e enfio-me na casa de banho a mandar vir com os meus botões. Desdobro novamente o papel. Tem uns bonecos engraçados. E riscos, traços, coisas sem nexo, daquelas que se deixam no papel, distraidamente, enquanto estamos ao telefone. Começo a perceber uns apontamentos, com dificuldade. Espera lá, isto... isto é um plano! Um plano de fuga, sim senhor! Esqueçam lá a cervejinha, para quem não queria trocar sonhos comigo, este fulano acertou em cheio no meu mais almejado! O coração acelera, estou outra vez cheio de frio, agora, na barriga. É melhor deitar-me antes que dêem pela minha falta. Mas quem é que consegue dormir? Finalmente está a amanhecer, esta noite pareceu-me que não queria terminar.
Meto o plano dentro de uma revista do social. É uma boa revista esta, nunca li nenhuma com tanto afinco, mas como não passo da mesma página, começam a gozar-me, se estou a ler alguma entrevista com a Soraia Chaves. Palermas... Ao fim da tarde já tenho tudo na cabeça. Daqui a exactamente quatro horas e vinte e dois minutos há-de arrancar um traço magenta riscando o céu. Comigo dentro. Desconheço o destino, isso agora não interessa. Saberei quando pegar na embalagem de Happy Meal, depositada no caixote do lixo ao lado do terceiro banco, do lado esquerdo, da Avenida da Memória. Está quase a mudar o turno dos enfermeiros do meu bloco. Isto vai ser fácil, afinal, não é uma prisão e eles acham-nos tontos, esperam-nos drunfados com as drogas que nos dão. É agora a minha deixa.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Vazio. O cacifo está vazio.
Vem-me uma daquelas fúrias… daquelas silenciosas, que trazem lágrimas aos olhos, que marcam as maiores injustiças do mundo, do tipo: porque raio não trocam o treinador do Benfica? Sacana do espanhol que só quer o mal do Glorioso…
Não me dizem para que me serve um cacifo vazio??! Antes tivesse ficado no calor da cama, ou à janela, à espera que passasse mais algum avião, a preparar planos para uma nova fuga.
Respiro fundo e olho com mais atenção, não posso acender a luz, para não me aparecer nenhum enfermeiro. Só coisas a contrariarem-me.
Resolvo passar com a mão para confirmar se está mesmo vazio mas, antes, convém benzer-me, nunca se sabe que coisas estão escondidas no escuro. Também não tenho a certeza se existe Deus, por isso, à cautela, vou agradando nestas pequenas coisas, já basta o que fiz sem me benzer antes.
A prateleira de cima está vazia, e a do meio também. No fundo em baixo, no canto esquerdo, está um papel amarrotado.
Enquanto abro o papel, vem-me mais uma lágrima ao olho direito.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Na cama ao meu lado dorme um tipo que permuta sonhos. Em casos especiais, vende. Tem coisas de todos os géneros, algumas de grande qualidade, mas caríssimas. Caríssimas mesmo. E não tem nada repetido, que possa ficar num preço mais baixo. O dinheiro que me resta não paga sequer o idílio de um cigarro depois do almoço. Muito menos uma cervejinha fresca. Até já trocava o sonho da viúva por uma cervejinha fresca a meio da tarde. De qualquer maneira, tenho poucas hipóteses de fazer negócio com ele honestamente. O gajo soube das minhas histórias antes de me mandarem para aqui, diz a toda a gente que por nada deste mundo trocaria um sonho comigo. Segundo ele, trata-se de uma questão de justiça cósmica. Eu, sinceramente, não entendo o que isso seja, não conheço nenhuma das duas palavras e nunca as encontrei assim juntinhas nas revistas do social que me trazem as senhoras bem intencionadas.
Costumam sedá-lo cedo. Hoje arranjou uma algazarra qualquer com um outro, coisas de negócios, e percebi que lhe aumentaram a dose. É a minha oportunidade. Consegui, há pouco, sacar-lhe da algibeira a chave do cacifo onde o tipo guarda aquelas coisas. Tenho-a na mão, estou cheio de frio. Sinto-me tentado pelo sonho fácil de voltar ao calor dos lençóis, mas não posso. Nem pensar. Pode estar ali dentro a minha cerveja, o desportivo ou um avião só para mim. Procuro, com jeitinho silencioso, rodar a fechadura. Engata um pouco a princípio. Mas está a ceder, é extraordinário. Está mesmo a ceder. Abriu.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Mas deixemos a viúva em descanso – e todo o seu potencial erótico, agora em formato, um pouco menos sensual, de obituário. Estou no hospital. Essa é que é essa. E no hospital não há assim tanta coisa interessante para fazer. Digo eu. Às vezes, dá-me para me fazer de santo e tentar convencer o mundo da minha inocência. Provavelmente estou errado. Devia gritar em cada cinco minutos que matei uma data de gente – uma população inteira enroscada debaixo de mantinhas da TAP. A ver se os enfermeiros e médicos desapareciam de circulação, horrorizados, e eu podia finalmente sair daqui. Saudades dos meus? Nada disso. Tenho é saudades de beber uma mini. De beber uma mini com o desportivo à frente. Haverá felicidade maior do que beber uma mini, folhear as páginas da jornada e olhar de vez em quando para o céu. Aqui tenho os aviões. Mas falta-me o resto. De vez em quando há uma senhora bem intencionada que me traz uma revista do social de há dois anos. E, em vez da cerveja, dão-me soro. Nada fresquinho, ainda para mais. Ainda querem que este país vá para a frente.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008




Dizem que sou louco. E talvez seja. Uma vez despachei à pedrada o cão do meu vizinho. O que é que querem? O rafeiro tinha cara de néscio, até se babava. Não era um cão vulgar. Um cão vulgar não ladra ao vizinho todas as vezes que o vê. E era assustador quando rosnava. Primeiro atirei-lhe uma pedra que lhe acertou no rabo. O sabujo ganiu mas voltou à carga. Enfiei-
-lhe a seguir com um cunhal nas trombas. Ele vacilou mas investiu de novo a espumar sangue, aquilo deve-lhe ter fodido as teclas todas. Já não tinha a dentuça, o que é que aquele tanso queria agora fazer? Mas eu já estava de pé atrás. Tinha-me armado duma verga de pedra, resto de chaminé demolida. Tomei balanço, quase me desequilibrei e vira, aquilo foi apanhar-lhe o meio da espinha, que pontaria, senti aquela merda a partir-se toda. O gajo ainda estremeceu em meia dúzia de espasmos e ficou ali mesmo de língua de fora. Parecia que se estava a rir de mim, o cabrão. Então fui-me a ele e mordi-o. A sério. Ferrei-lhe os dentes como ele queria fazer-me. Arranquei-lhe a língua. O gajo também já não precisava dela para nada. Anda, sacana.
Mas isto para dizer que eu não sou pessoa para ter dado cabo da viúva. Uma coisa é um cão pulguento, outra coisa é uma viúva linda. Quando a via, apetecia-me uivar à lua. Para que é que eu a ia matar se estava apaixonado. Sim, já ouvi falar de crimes passionais. Mas a paixão não mata, a paixão é vida. O despeito sim, é letal. E nunca me senti despeitado por ela.
Ah, os senhores não conheceram a viúva como eu conheci. A alvura das suas coxas, das suas mamas ainda firmes contra a roupa negra que ia abandonando sobre os lençóis e pelo chão, enquanto se desnudava, o seu sorriso meio perverso meio cândido, só podem ser comparáveis à visao de deus na hora da morte. E quantas vezes eu morri…
Gosto de ver os aviões passarem por cima de mim. Acompanho-os desde que irrompem das glicínias que se enroscam nas flechas das grades do muro nascente e até que se esfumam para lá das águas-furtadas do Bloco D.
Gosto de lhes seguir os rastos, nuvens de vento, baforadas de cirros. Quase que os cheiro.
Gosto de lhes adivinhar as rotas. Um lápis magenta para o traçado transatlântico, um lápis negro para os destinos domésticos.
E cortam-me em diagonal, umas vezes esmagando-me contra o almofadado da relva, outras sugando-me para além do recorte da Lua. Depende do dia em que estou.
Um dos enfermeiros até já se ri, os músculos palpitando contra o tecido da bata, a face em grande angular, o corpo uma auréola de luz:
— Era hoje que ias num daqueles, companheiro…
Eles até são simpáticos comigo. Mesmo com os músculos a palpitar contra a bata. Mesmo quando repito que estou inocente.
Não gostam é quando tento fugir.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Nasce a vontade de regressar ao castanho-escuro da terra fértil, ao húmus negro anterior à erva, à urze, às rosas. Nasce o grito da vida que não sabe que o é; o choro inteiro, sem medo, sem dor, só choro, ânsia aguda de ser.

Assim estiveram eles durante algum tempo. Dias, semanas - é dífícil precisar. Horas, certamente. Ninguém deu por nada, como antes não tinham dado pelo abismo de folhas pálidas e ramos quebrados que os separara. Por entre o fumo do arbusto queimado, os dois respiravam o oxigénio sujo da esperança reacendida. E fingiam não sentir o ardor nos olhos, evitavam referir as cinzas que lhes poisavam nos lábios e lhes gretavam os beijos com a secura árida do deserto. Depois do fogo, a vida foi regressando à normalidade. Com uma pequena diferença: ela não se lembrava de que tinha olhos; ele não se esquecia de que a roupa dela tinha fechos.

Só mais tarde veio a fase do estudo. Estudaram-se em segredo, cada um a si próprio, depois um ao outro. Chegaram em simultâneo à página das conclusões, sem, no entanto, concordarem com o texto. Sabiam apenas que eram uma indelével impressão digital no arquivo do pecado, que só sai com o fluir ininterrupto das águas matrimoniais. E prosseguiam, de casa lavada e alma suja, a vida que sempre tinham aprovado e prometido um ao outro. Mas o amor, composto em partes iguais com o ódio, recuava em passos apressados, deixando à metade odiosa da sua constituição a ocupação gradual dum território que um dia fora só seu. O pacto de aliança público que haviam assinado anos antes transformava-se, com o passar do tempo, num tratado secreto de hostilidades surdas.

Bem longe ia o tempo em que ele, jovem macho, farejava, deslumbrado, doces caudas do lar, se quedara, hipnotizado, diante da cauda amada, posara para fotografias (agora jazendo amarelecidas no álbum de casamento), rendido ao magnetismo de uma longa cauda branca. Era agora um homem amargo, que se sentia ferido por quatro metros de tecido branco bordado por mãos cúmplices daquela que lhe roubara a liberdade, nomeara os seus defeitos, expusera a sua submissão.

Ele envelheceu primeiro. Quando morreu, foi a enterrar deitado sobre o vestido de casamento dela. Ninguém perguntou porquê. E ela nunca explicou.
“E se fôssemos dar um passeio?”. Uma fuga para a frente pareceu-lhe um plano exequível. Não conseguia pensar perante o silêncio gritante dela, o ar denso, húmido, a tensão que escorria pelas paredes do quarto. Ela levantou-se, obedientemente inexpressiva, fantasmagórica de tão lívida, tirou do roupeiro um vestido de cor malva, leve e feminino. Houvera sido estreado no início do namoro e ele lembrava-se. Essa memória ressoou dentro de si, fez tilintar uma ternura doce, enterrada fundo, para lá das raízes do arbusto.
“Queres que te ajude com o fecho?”, murmurou. E assim, com jeitinho, voltou a pegar-lhe na cauda, sacudiu-a do pó da solidão, afastou cautelosamente a areia, movediça de desconfiança, e a erva molhada de silêncios.
Nem que só por um momento.
Talvez consequência da humidade palpável ou fruto de meses de invisibilidade mútua, o fecho não chegou a subir... Um desejo desesperado, brutal e animalesco, tomou conta de ambos, como se não houvesse amanhã, nem mundo lá fora, nem vazio nas almas de ambos, o rastilho ateou o arbusto, incendiando a dúvida.
Sentiam-se...
Ainda.
Finalmente.
Apesar.
Escreveu Florbela Espanca que “sob as urzes queimadas nascem rosas”. E o que nasce depois de queimada a dúvida, nem que só por um momento?

sábado, 9 de fevereiro de 2008

E o mundo ficou suspenso, como se estivessem num filme em que, depois de uma cena muito barulhenta, de repente desligassem todo som à espera que a personagem reagisse. Era, nitidamente, uma pergunta armadilhada: ela não tinha sequer fechado os olhos, fixava-o sem pestanejar, não havia qualquer dúvida sobre a cor.
Sem querer, ele lembrou-se dos olhos da Joaninha, da contabilidade, que eram azuis, sempre a brilharem de vida e alegria. Era uma rapariga simpática, a Joaninha, sempre disponível para lhe fazer companhia ao almoço.
Pânico. Os olhos que tinha à sua frente não tinham qualquer brilho.
Precisava de se concentrar, qual seria a resposta correcta? Seria boa altura para lhe dizer que o encantamento que sentia com a sua companhia estava gasto, sem dar lugar a nenhum sentimento novo? E seria isso realmente verdade? Como reagiria ela? Ele não queria estragar tudo. Mas o que era o “tudo” que tinham? Já não estaria estragado?
Ela não deixava de o fixar… Tinha de tomar uma decisão. Ajoelhou-se, segurou-lhe carinhosamente as mãos, respirou fundo e sorriu. Tudo se ia resolver.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Deixaram, com o tempo, de cruzar olhares, de interceptar toques cúmplices debaixo da mesa, ela já não sentia o cheiro dele nas almofadas, ele já não a procurava na rua, entre as multidões. Não se insultavam, não se feriam, não guardavam qualquer rancor. Pagavam as contas da casa no dia certo, tinham telemóveis com câmaras, internet sem fios, uma televisão em cada divisão e uma empregada que lhes deixava, à excepção da alma, tudo irrepreensivelmente limpo. Saíam juntos de manhã para a confusão do trânsito, dissolvendo o seu silêncio nos sons vivos da cidade, para tranquilidade de ambos. Estava tudo certo assim. Tudo no seu lugar. Recebiam e faziam visitas aos fins-de-semana, era quando sabiam mais qualquer coisa da vida um do outro. Dividiam carro, tecto e solidão. E o arbusto, que se adensou e cresceu. Ramificou-se, sulcou a terra de raízes. Deu flores em Abril e frutos no Verão, recolheu sempre ao verde pálido do início, mas maior, mais fundo, mais sólido. Edificava-se entre eles com uma robustez possante, fazia-lhes sombra, barrava-lhes os passos. Por vezes dava a impressão fugaz de desaparecer, mas logo regressava, fecundo, numa explosão de ramos que se propagava pela casa toda, pelas coisas, pelos corpos.

Num fim de tarde, ao chegar, ele encontrou-a sentada na cama, muito pálida, com os braços caídos no colo e o velho álbum de fotografias aberto sobre a colcha. Ela olhou-o fixamente e perguntou-lhe: “E os meus olhos, de que cor são os meus olhos, sabes ainda?”.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

“E tu, minha…?”, salivou ele, mesmo assim, sem arriscar no qualificativo, como se na sua reacção de pêlo eriçado ainda tivesse conseguido puxar do travão das palavras. “Minha quê?”, questionou a moça, mais com curiosidade do que com ofensa (pois se nunca tinha havido zaragata entre os dois). “Olha, minha, minha, minha, minha, minha, minha, minha, minha, minha, minha, minha, minha …”. Dizem os de melhor ouvido que, depois de tanto andar à procura do termo adequado, chegou a pronunciar um vocábulo reconhecido pelos dicionários disponíveis. O ponto é que o disse com o volume quase no mínimo porque nem ela o conseguiu perceber. Os especuladores de serviço não deixaram, porém, de lançar o seu serviço de apostas. Nos clubes e mercearias à volta do jardim, há quem jure ter ouvido termo terno e adocicado e há também quem insista na tese do palavrão e da calúnia. Ainda hoje se contam histórias e lendas (e se publicam livros) sobre qual a palavra dita naquele dia, naquele cenário, àquela hora. Certo, certo é que a acção voltou à sua dança inicial. Para não estragar a fotografia e o trabalho do artista, pois. Que a misteriosa ocorrência não os impediu de voltarem a ser casal que gosta de sentir o seu valor apreciado, e que se multiplica em atenções redobradas com a cauda, no que é secundado por outros machos e fêmeas, se os houver por perto. Voltaram a ser - fotograficamente - o casal do início mas agora havia um novíssimo arbusto entre eles. Deram-lhe um nome: dúvida. Até hoje não o conseguiram cortar.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008




Tratava-se de reter toda aquela felicidade em apertados limites – fotografias. O mestre do ofício agarrava-se à câmara como a uma tábua de salvação prestes a soçobrar, agitado por um nervosismo difícil de esconder, patente nos volteios em torno dos recém-casados, na conquista do melhor ângulo, dalguma irregularidade no ajuste do vestido ao corpo, de qualquer distorção na gravata do recém ex-nubente. Não interessavam ao compenetrado profissional as efémeras nuances de comportamento, as subtilezas, os momentos irrepetíveis. Já sabia de antemão o que queria. Tinha cunhado há mais de duas décadas no seu subconsciente algumas poses e utilizava agora esses mesmos paralíticos apodrecidos para enviar à posteridade notícia da união de dois jovens. Familiares e amigos do casal haviam de deleitar-se, folheando as páginas do grosso álbum, espécie de kama sutra moralista com variantes das três primeiras posições repetidas até à exaustão. Alterava-se somente o pano de fundo que poderia muito bem ter sido retirado dum compêndio de botânica.
As fotografias amareleceriam no calhamaço e na memória, o vestido e o fato abandonados à voragem das traças, mas do ritual fotográfico, família que se prezasse nunca poderia abdicar.
De súbito um grito atroz transformou o bucólico quadro numa folha em branco. Dir-se-ia que o véu tinha caído enorme sobre o parque e os seus intrusos, fazendo-os desaparecer, abafando todos os outros ruídos, perceptíveis ou não. Alguns segundos decorreram até que através da porosidade do tule, pudéssemos entrever os esposos; já não uma à frente e outro atrás solícito, mas dois seres humanos frente a frente como animais selvagens enraivecidos. “Nunca fazes nada de jeito”, rosnou ela.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Mas não nos adiantemos.
Antes de mais, devemos não esquecer que os estudos apenas apontam grandes tendências, largas tiradas. Nenhum estudo pode conter todas as variantes da espécie. E da interacção de cada indivíduo com o outro. Além disso, nesta história ainda não é chegada a fase do estudo, com ou sem minudência.
Agora é a altura do encantamento. Da pujança. Da descoberta. Até mesmo do exibicionismo. Agora.
O casal desfilava pelo relvado numa clara demonstração de cumplicidade. Ela sublime na sua opulência; ele estóico e atento ao voltear da cauda, o sucesso do ritual dependendo da correcta interpretação de sinais. Nós, testemunhas, tanto poderíamos imaginar que daqui nascesse uma história para toda a vida como um breve conto de poucas páginas; nada disso nos interessava, porque o desejo estava ali, palpável, presente, como um algodão doce que se enreda nos dedos e cola aos lábios e escorre em ponto de açúcar pela garganta abaixo.
Agora.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Qual é o animal que levanta, sacode, segura e segue a cauda da fêmea, com desvelo enternecedor? É vê-lo cuidando das condições de higiene e de beleza que ela apresenta, limpando-a das pétalas murchas, das folhas secas e dos ramos partidos que se prendem aos seus pêlos e fibras (alguns naturais, outros não), alisando-a, esticando-a, puxando-a para si, dispondo-a sobre a relva, fazendo-a deslizar nas suas patinhas peludas, observando- -a embevecido, e logo nos sentimos igualmente enternecidos pelo quadro que tais afazeres nos proporcionam. Então se o cenário é contemplado num sábado ou domingo soalheiros - oh, bênção suprema! - maior é o nosso deleite, rapidamente percebido pelo casal, que gosta de sentir o seu valor apreciado, e que se multiplica em atenções redobradas com a dita cauda, no que é secundado por outros machos e fêmeas, se os houver por perto, todos unidos pelo mesmo código de honra, que os obriga a não permitir que a terra seca, a erva molhada, a areia húmida ou até o simples ar limpo, pousado no chão sujo, contaminem com a sua existência imperfeita um apêndice que representa, na sua cor esplendorosa e dimensões generosas, não a extremidade traseira do corpo, mas a condição moral de uma espécie de seres vivos cuja missão principal no planeta consiste em levantar, sacudir, segurar e seguir as belas caudas das suas fêmeas. Este é um ritual que assinala o início oficial do acasalamento e que, segundo alguns estudos, continua ao longo da vida, mesmo quando a cauda, acompanhando o processo de envelhecimento do resto do corpo, vai ficando pequena, murcha, enrugada e rala.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Cá está. Um encontro quase casual num jardim público da cidade de Ponta Delgada entre pessoas que já se conheciam e uma quase desconhecida levou em menos de uma hora que se decidissem formar este blog. Um contacto para Lisboa e outros para a própria ilha de S. Miguel e o Corpo Insólito tomou forma. Vamos ver no que dá.