terça-feira, 3 de junho de 2008

mensagem de sua excia o administrador

temos de repensar este blog. proponho uma reunião/jantar ou reunião/reunião para o próximo fim de semana. por enquanto estamos de férias.

domingo, 1 de junho de 2008

Esquiçou como uma louca, buscando aquelas formas que brotavam incessantes na sua mente, numa explosão de sinapses, até ao mais ínfimo detalhe, sem que conseguisse materializá-las. Recomeçou dezenas de vezes o mesmo desenho, aos primeiros riscos pressentia que errava a escala, as dimensões, a ideia. Frustrada, deixou-se cair pesadamente para trás, o tapete relvado abraçou o seu abandono.

"Aquela casa era eu... "

As paredes, que tinham esperado a sua presença para enfim, ruirem, sugeriam-lhe uma epifania. Solta dessa formalização física, a sua alma expandia-se, prescrutava o mundo, as coisas de sempre com olhos novos, as coisas novas como se sempre tivessem sido.

Liberdade...

Não mais procuraria albergar o mundo em si. O movimento contrário parecia-lhe agora muito mais evidente.

Liberdade....

Voltou lentamente para o carro, a papoila na mão, o coração cheio de cravos e etiquetou numa gaveta da memória o dia em que me descobri casa.

FIM

sábado, 31 de maio de 2008

Fiquei coberta de pó e desorientada a princípio, como num regresso instantâneo à infância, quando tinha ataques de pânico e falta de ar. Desmaiei. Acordei, arrastei-me mas caí numa pequena depressão no solo. Com pouco mais de 1,5 m de profundidade. Desmaiei de novo. Sonhava então. Raios de sol perscrutaram as minhas pálpebras e acordei, depois de duas horas. Abri primeiro o olho direito sondando o local onde me encontrava.”Raios!, vou sair daqui, fartei-me! E hei-de descobrir o caminho. Que se lixe! Não havia retorno possível. Assim as coisas avançam".

Limpou o musgo e pegou numa papoila que resistia ao vento mas não resistiu àquele vigoroso puxão. “ Vou levar-te para te secar e para te espalmar na última página do caderno de esquiços”. Tira-o do chão e ,ainda meio atarantada, decide-se a encetar o seu projecto….

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Saí a correr, apavorada. Apenas tive tempo de, a uns cem metros da casa, vê-la ruir em minutos.

Perplexa, percebi:
- Aquela casa era eu....

quinta-feira, 29 de maio de 2008

O arco da porta principal voltou a atravessar-se por cima de mim. O fumo elevava-se da calçada que cobria o chão do vestíbulo, como se uma chuvada se tivesse abatido sobre ela após ter sido fustigada por um sol tórrido. Mas naquele findar de dia nem uma gota de água ali pousara e o frio entrava ossos dentro. Baixei o cigarro da boca até ao luxuriante musgo que me dava pela cintura, para largar um pouco de cinza, e o fumo desapareceu.

“Tens de ir ao oftalmologista!” – agoiro sinistro que me carregou a mente, por um bom par de minutos, e que me feria os tímpanos todas as noites quando ia dormir e escutava, através da mal construída parede, a mulher do vizinho a chagar o marido. Nem aqui, neste recanto perdido entre a Fajã de Baixo e a Fajã de Cima, se Ponta Delgada me deixa em paz.

Uma voz emudecida pelos séculos germinava por entre o musgo da prateleira descaída para o lado esquerdo que havia sido particularmente calejada pelo tempo. “Três reis morreram, três reis morreram…” – consegui discernir ao levantar um velho número do Açoriano Oriental que apodrecia sobre ela. “Suponho que não sejas rei, porque os mortos não falam e isso aqui é muito húmido para ser Alcácer-Quibir.” – retorqui-lhe, para logo ser arrebatada pela dissipação da dúvida que há muito me corroía: “Já não precisas de aspirar a que o teu vizinho te faça bonitas odes na Internet, como em tempos fez à Madame Büttant, podes fazer a ti própria as melhores odes do mundo.”

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Musgo sedoso formava um manto na base onde, imaginei, tivesse havido uma prateleira. Devagar, passei a mão e comecei a imaginar que vidas teriam ali guardado que segredos, que tesouros, que prendas, que mistérios. Puxei do bloco e do lápis e comecei a desenhar. Freneticamente, enchi folhas de traços delicados, perspectivas vigorosas, decorações pujantes.
Acendo um cigarro. Regresso calmamente ao carro.
Olho para trás mais uma vez. E nessa altura reparo no mais importante.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Andei mais alguns metros por entre aquelas memórias perdidas. Senti-me quase conduzida por mão invisível e estaquei sem querer junto a um nicho naparede. Teria sido outrora um armário mas agora nada mais do parecia que um buraco casual. Inclinei-me melhor para ver.