domingo, 27 de abril de 2008

Antão parecia imune ao seu feitiço….e fora o único até agora de quem a aranha não se tinha aproximado. Estranha coincidência pensou. “ Ele é tratador de animais e talvez já tenha sido mordido por uma aranha e conservado algum veneno”. Algo de errado se passava. Desta vez a predilecção pelo homem não estava do lado da aranha, mas dela. Era já a sua segunda longa tarde de meditação, sobre o que fazer, mas nada. O vazio. A sua infalibilidade, como desvantagem nunca lhe permitira desenvolver soluções de recurso. Encontrava-se isolada, perdida, sabendo a premência da tomada de uma decisão. No dia seguinte arremetida de uma sensação de derrota arrumou as suas vestes negras que utilizava durante todo o ano, decidida a sair com destino à casa de família. A aranha força-a nitidamente a essa decisão. Senão, porque choraria? Mas algo contrariaria a sua apressada e sofrida decisão. Antão tinha dedicado a sua última semana a espiá-la, o que já fazia desde que elas se tinham mudado para aquele prédio, mas agora não só com intuito de estudar o comportamento de aracnídeos em ambiente doméstico, mas de deliciar-se também com o corpo dele e da vizinha.

- Olá, bom dia! Com estás?
- Ah…..és tu! Olá, bom dia! Esperava outra pessoa, desculpa. Está tudo bem?
- Sim, obrigado. Vejo-te atarefada com essas caixas. Era só para saber se poderíamos fazer uma reunião extraordinária de condóminos.
- Hã?! Mais ainda? Não sei se posso.

A desculpa tinha sido inventada no último minuto, mas parecia perfeita e o motivo muito forte. A sua simpatia por Antão levá-la-ia a atrasar a sua saída? Tinha de o fazer! Antão nunca teria outra hipótese de estudar um outro animal doméstico de tão perto. Consigo as aranhas morriam passado pouco tempo de as levar para casa. E nunca descobrira porquê. A sua investigação estava adiantada mas precisava de continuidade. Por outro lado, a mulher tinha sido a primeira a expandir e revelar toda a sua lascívia. E ele gostou disso. Não queria perder essa sensação. Estava mesmo determinado a ampliá-la e levá-la por muito tempo. Assim, deu-se o momento de planear e jogar por antecipação…

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