domingo, 24 de fevereiro de 2008



O amor era outra experiência completamente desconhecida para Lex Luthor. Afinal, o amor é para os crédulos. Acreditam que estão apaixonados por alguém, acreditam que essa pessoa gosta de volta, acreditam que vai ser para sempre. Sentiu-se um rapazinho inseguro, outra novidade. O jovem Lex iniciou-se nas artes da mentira quando o resto dos rapazes descobriam o corpo, as raparigas e um mundo de emoções. Um carro de alta cilindrada aproximou-se da berma. Após breve diálogo através da janela, arrancou, levando consigo o tafetá.

Chamavam-na de Sheila. Silhueta alta, esguia, escura, vestia sempre de branco e pouco. Mirava com ar altivo, através das pestanas demasiado longas, enroladas, tesas de tantas camadas de rímel. Nunca haviam trocado uma palavra. Entendeu que esta criatura fazia tanto sentido naquela esquina quanto ele próprio, Nini. Ambos pertenciam a um outro universo. Não sabendo bem qual, decidiu-se que construiriam um. A função de Nini estava esgotada, pelo que foi para casa e enterrou-a. Voltou mais tarde, Lex em organdi, após breve diálogo através da janela do carro, arrancou. Era seu, o tafetá, enquanto esta noite durasse.

Foram para um quarto rasca, numa pensão rasca. Sem sexo rasca, ficaram deitados, Lex explicando o que sentia, que pretendia tirá-la da vida. Utilizou, pela primeira vez de modo crente, as palavras verdadeiro, sincero, honestamente, amor. Sheila permanecia silenciosa, mesmo quando ele lhe pediu que revelasse o seu nome verdadeiro. Sentiu-se adormecer, falar a verdade era um exercício esgotante. Acordou só. No espelho por cima do bidé, que ficava no canto do quarto, escrito a baton escarlate, uma palavra: Joaquim.

7 comentários:

leonor disse...

Susana, amiga, este conto é a loucura total! Gostei muito do teu contributo, sobretudo da reviravolta que deste ao tafetá. Ele há tecidos que enganam mesmo...!

Renata Correia Botelho disse...

Susana, boa reviravolta!
Leonor, no teu lugar não saberia o que fazer... O que nos vale é a tua criatividade e a certeza de que já hás-de ter pr'aí alguma ideia eficaz para dar continuidade a este "caso Lex"...

JNAS disse...

Minhas Caras e meus Caros: Li de uma assentada este folhetim do(a) Lex Luthor. Muito interessante ! Dava um excelente script para um devaneio cinematográfico de Pedro Almodóvar, mas sem a Penélope Cruz. Apre !

Maria das Mercês disse...

Pois, Leonor, tu vê lá o que fazes ao coração deste pobre! Susana, gostei muito.

rita disse...

pois que estamos perante um desenvolvimento brilhante da vida do nosso herói.
a mí me gusta!

leonor disse...

Há pouco, em volta de uma chávena de café, falávamos de Tim Burton e de musicais.
Parece uma observação idiota... e é!
Tal como o que se vai seguir...

Mário disse...

Susana, o que mais apreciei no teu texto foi o facto de o teres ilustrado. Tínhamos combinado que alguns textos deviam ter ilustrações mas plos vistos tu e eu fomos os únicos a dar um contributo.