domingo, 25 de maio de 2008


Conduzia o mesmo trajecto de todos os dias. Nesta altura do ano o sol põe-se mesmo à frente, na minha linha de horizonte. Com a visibilidade reduzida, descortinei as pedras da casa por instinto. Abrandei…
Voltei atrás a pé, não vislumbro vivalma, as silvas roçam-me os jeans. Pressinto esta propriedade alheia vaga. Contorno o que resta das quatro paredes, tristes por não susterem telhado, envergonhadas de há muito terem perdido capacidade de abrigo.
As pedras negras parecem querer falar comigo, as cantarias contar quem por elas entrava e saia, da moça que namorava à janela. Entro, consciente de ter licença. No interior só o enorme forno permaneceu vigoroso aos invernos consecutivos.
Cheira-me a casa, a abrigo, a castelo.
Quero revolver a terra com as mãos nuas.
Descubro com simplicidade que sempre pertenci a este lugar.
É uma relação simples e intemporal, que terei agora de firmar no mundo das leis dos homens.

2 comentários:

Maria das Mercês disse...

Belo começo, Susana, e para quem te conhece, uma identificação muito forte com a tua pessoa...

Su disse...

Sim, de facto, Maria. Admito que nesse dia estava muito "eu comigo", lol...
Mas se reparares o narrador pode ser homem, mulher, novo, velho... Quis apenas que fosse alguém que se apaixona por um lugar. Ou não.