domingo, 11 de maio de 2008

...veio-me à ideia não partir. Não a deixar, nem a ela nem às outras três. Fazer tábua rasa, começar de novo, limpo e rejuvenescido, como uma criança, a quem deixam escorrer pela cabeça pura, água da pia baptismal.
Eu, que sempre tive tudo no lugar certo, sinto este desejo pueril de ser incerto. E sem nunca ter estado efectivamente farto, ou ter dado conta disso, da vida que tinha e para a qual me parece, agora, tão rebuscado voltar. Sou um homem novo? Sou finalmente o homem que sempre fui e escondi? Será toda esta comoção causada por ti, que és apenas uma de quatro, que és tu como podia ter sido qualquer outra... Mas teria outra provocado semelhante epifania?
Perdido nestas questões existenciais, não sabia que fazer das coisas práticas, onde arrumar as malas vazias, estavam para ali, desfeando o quarto já quase na penumbra, desvanecendo a sombra dela no soalho de pinho resinoso. Quantas vezes teria sido já afagado, este chão, e porque não posso eu fazer o mesmo comigo, afagar-me de uma vivência que me é estranha, aparecer ao mundo com uma camada nova, fresquinha de envernizada.
Perdoas-me se ficar?

1 comentário:

Maria das Mercês disse...

Gostei sim senhora, gostei de teres explorado o narrador e da pergunta final.