domingo, 1 de junho de 2008

Esquiçou como uma louca, buscando aquelas formas que brotavam incessantes na sua mente, numa explosão de sinapses, até ao mais ínfimo detalhe, sem que conseguisse materializá-las. Recomeçou dezenas de vezes o mesmo desenho, aos primeiros riscos pressentia que errava a escala, as dimensões, a ideia. Frustrada, deixou-se cair pesadamente para trás, o tapete relvado abraçou o seu abandono.

"Aquela casa era eu... "

As paredes, que tinham esperado a sua presença para enfim, ruirem, sugeriam-lhe uma epifania. Solta dessa formalização física, a sua alma expandia-se, prescrutava o mundo, as coisas de sempre com olhos novos, as coisas novas como se sempre tivessem sido.

Liberdade...

Não mais procuraria albergar o mundo em si. O movimento contrário parecia-lhe agora muito mais evidente.

Liberdade....

Voltou lentamente para o carro, a papoila na mão, o coração cheio de cravos e etiquetou numa gaveta da memória o dia em que me descobri casa.

FIM

2 comentários:

Maria das Mercês disse...

Apesar de um certo desvio periclitante em que não se percebeu muito bem sob que influência estaria a protagonista do conto, gostei do fim!!!

Judite Fernandes disse...

que lindo... susana
toda a faineza... e um abraço